Calangute
Viagem de autocarro “sleeper” de 12 horas, entre Pune e Goa.
A viagem foi relativamente tranquila, tirando o vento que entrava pelas frestas da janela, tornando assim o “ar condicionado” pelo vento que entrava livremente, arrefecendo um pouco o ambiente. As paragens do autocarro a meio da noite, num ermo em que casas de banho é ao natural e o café é uma palhota feita de folhas de palmeira com um pitromax a iluminar. Bebo um “tchai” ali, no meio do nada e tenho dois dedos de conversa com uns fulanos que nem vejo muito bem, do tipo “What's your name?” “Where you came from?”..., de maneira geral a abordagem é sempre a mesma, muito directa por sinal, mas agora compreendo um pouco melhor o porquê. Por um lado o inglês de muitos deles (o meu não é grande coisa, mas sempre é um pouco melhor) é bastante limitado, por outro têm uma certa curiosidade em nos conhecer... e há sempre aqueles que procuram interagir para vender alguma coisa. :)
Na primeira paragem de Goa, sou acordado por um bakano, a dizer que me levava para um sítio muito bonito, que é bom e mais isto e mais aquilo..., Ainda meio a dormir lá foi eu parar a uma praia maravilhosa, chamada Calangute. Sem dúvida que a praia é bonita, mas quando o turismo ataca com muita força, lá se vai a beleza original. Existem dezenas de restaurantes em cima da praia, com espreguiçadeiras quase ate à água. É uma zona com muito turismo (principalmente ingleses), que só se deitam naquelas coisas, facto que eu estranhei. Ainda me perguntei se a areia teria algum problema, mas depois de falar com uma Sonia que me vendeu um colar, percebi que as espreguiçadeiras são uma espécie de moda para turista ocidental. Dizia que 10 anos antes, só havia 3/4 restaurantes e uma praia praticamente virgem...
Falamos um pouco dos deuses Hindus, já que acho muito curioso eles porem os nomes de deuses em tudo! Desde Laxmi, Maitreya, Vishnu, Shiva... ate já vi “Jesus” escrito em letras garrafais num camião, pois porque a decoração (publicidade) é para ser vista à distância! Dizia-me ela que apesar de terem muito deuses, Deus é só um, afinal o sangue que nos corre nas veias é todo da mesma cor, dizia ela.
De uma maneira geral esta abordagem reflecte a tolerância dos indianos em relação aos outros credos, pelo menos é o que me parece ate agora.
Um dos dias em que estive em Calangute, aluguei uma vespa para visitar a Goa Velha, capital do território Português na Índia, antes de passar para Pangim, devido às várias pestes. Os navegadores depois de meses a viajar deviam sentir-se em casa, é um espaço muito tranquilo e com sabor a Portugal. A Basílica do bom Jesus onde se encontra o corpo de S. Francisco Xavier e a cruz da Igreja de S. Francisco de Assis, são muito significativas, para mim.
O guia que transporto fala que em Goa chegaram a morar cerca de 300.000 pessoas, no sex. XVI, mais que Lisboa ou Londres; diziam “Quem já viu Goa não precisa de ir a Lisboa!” Panjim tem algumas casas interessantes, da época colonial.
Cabo de Rama
De Calangute vou para cabo de Rama de “Local Bus” (muito baratos) e quando chego a Margao experimento um novo transporte público, as mototaxi. La vou eu com o Nazareth Lobo ate Cabo de Rama.
Encontro um hotelzinho, muito agradável naquele local recondido, que é do Mr. Fluriano Fernandes, goês que ainda fala o português, embora um pouco enferrujado.
Com o tempo, constatei que de Rama (há relatos que relacionam o Cabo de Rama com o exílio de Rama) só existe o nome, pelos vistos atribuído pelos portugueses, onde vestígios, nem vê-los, talvez nunca tivessem existido ou sequer passado por aqui. Antigamente, havia o habito de destruir aquilo que estivesse relacionado com a cultura anterior e os portugueses não escaparam à regra, houve muitos templos Hindus a serem destruídos.
Existe um forte que fora abandonado, quando do regresso, em 1961, que era uma guarnição militar. Estão actualmente a iniciar a recuperação.
Ainda fiz umas caminhadas e uma viagem de barco junto ao forte.
Foi interessante perceber que ainda há goeses (com mais de 50/60 anos) que ainda falam o português e parecem olhar para os tempos portugueses com uma certa saudade e nostalgia. Durante o fim-de-semana esteve um grupo de goeses no hotel, que cantavam o fado, que dizem ser romântico, cantaram inclusive o Hino Português, o que me surpreendeu bastante. De uma forma geral, nota-se a presença portuguesa aqui, quer através das igrejas caiadas, quer pelos muitos cristãos, muitas casas com características portugueses...
Um dos dias fui a Margao com o objectivo principal de enviar coisas para casa, já que o peso que trazia era insuportável (ate sonhara com isto!), parecia um “carregador de bagagens”. O envio é muito próprio, pois as coisas tem que ir embrulhadas num pano branco e cosidas por um costureiro. Enviei cerca de 6 kg, mas a sensação foi de me libertar de 60! Que sensação de leveza!
Um apontamento muito engraçado de se ver é quando as pessoas estão a concordar com o que ouvem, abanam a cabeça para os lados, sobre os ombros, com suavidade; bem simpático de se ver.
DEV BOREM KORUM (significa “obrigado” em Concanim, a língua de Goa)
Último dia em Goa 19/01/06
sexta-feira, janeiro 27, 2006
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