quarta-feira, julho 16, 2008

Rishikesh I - "Fluindo com o Ganges"

Como transformar cerca de cinco meses de permanência em Rishikesh em duas páginas de 'leitura rápida'? E o que abordar? Falar das aulas do Swami Dharmananda que já repeti pela terceira vez, e assisti até ao último dia em que estive em Rishikesh? Perguntei-lhe certa vez, numa das nossas conversas pessoais, que muito prezo, quantas vezes tinha de repetir as aulas para que aqueles ensinamentos ficassem totalmente claros. Ele respondeu: "Existem pessoas que lêem a Bhagavad Guita todos os dias e há sempre novas compreensões que surgem."
Noutra conversa respondeu-me: "Se não é claro o deves fazer, não facas nada." Quando o ouvi dizer "Não faças nada" um imenso peso me saiu dos ombros!!!!!!!! Como sempre, queria eu obter respostas claras acerca dos próximos passos a dar; situação que acontece repetidas vezes: "Devo ir para a esquerda ou para a direita?"
O que parece é que tal não é mais do que alimentar a compulsividade da mente nos seus mecanismos de criação de pensamentos e alimentar uma série de emoções que em muito são fruto da 'nossa' cultura Ocidental. A questão a colocar é: "Como posso eu tornar o presente momento prazeroso?" e "Como 'ligar-me' à Inteligência Cósmica?".
Na realidade estes momentos de incertezas parecem ser óptimos exercícios para observar atentamente o estado caótico da minha (nossas? J ) mentes.
Tranquilizar a mente e impulsos parece ser fundamental para que decisões claras possam acontecer, onde os ditos passos parecem vir encadear-se como sequência natural dos passos dados anteriormente, tornando-se claros nos devidos momentos.
Rishikesh, permitiu várias alterações à medida que fui praticando Yoga e Sadhana (práticas físicas e espirituais com objectivos espirituais). Estas práticas permitiram lentamente trabalhar muitas tensões acumuladas durante décadas. Muito longe de ser o "Homem Elástico", vejo que a prática continuada traz à superfície muito material que jaz no subconsciente, aparecendo sob a forma de sonhos (muitas vezes medos, fobias... que ganham espaço para vir à superfície, devendo, como tal, ser visto como acontecimento positivo; material que estava latente no subconsciente pode agora ser libertado), sentimentos desajustados, padrões de pensamento negativos... Como se tudo isto funcionasse com entulho não deixando espaço para as faculdades plenas!
Torna-se também mais claro que muito é resultado de comportamentos e hábitos altamente prejudiciais, e por vezes, até destrutivos, que persistem durante anos!
Durante estas práticas mais saudáveis é o próprio corpo físico que parece procurar formas de se reequilibrar e reajustar. Várias foram as vezes que 'diarreias de um dia' pareciam ser um reajustamento energético!
Parece-me oportuno partilhar neste espaço um trecho intitulado: "O Valor da Vida Humana", do livro "Where are you going", do Swami Muktanada.

Acerca das Incertezas
Neste preciso momento, situação idêntica se volta a colocar: planos para me deslocar ao Monte Kaikas, no Tibete, esbarram na Embaixada da China, que não emite Vistos; consequências dos protestos 'Tibete livre', Jogos Olímpicos e muita prepotência!
Perante a incerteza a mente volta a agitar-se em questões infinitas: "O que fazer?????" NADA. Pôr a questão ao Universo e estar consciente destes mecanismos da mente trazendo-os à Luz, parece ser o mais sábio. Com esta atitude interna (nem sempre fácil de manter) estou certo que as melhores soluções virão. Assim tem acontecido...
Engraçado perceber que este compasso de espera tem permitido reavaliar alguns dos meus interesses... Que parece abrir-se ao mundo das artes...
Quando o projecto estiver mais sólido, será com prazer que também será apresentado neste espaço. Espero.

Namaste
Rui

terça-feira, julho 15, 2008

Rishikesh II - "Deborah, A Filha de Kali"

Talvez para desenvolver a minha ligação à 'energia' devocional, conhecida como Bhakti Yoga, ou qualquer outra razão, venho a conhecer Deborah, dos Estados Unidos...
Quando a conheci, ia à boleia para uma gruta,"Vashshist Guha", local ligado ao Mahabharata onde o santo Vashisht meditara durante muitos anos, a cerca de 20 km de Rishikesh...
Eram raros os dias em que não ia. No Local há um ermitério onde o Swami transmite ensinamentos acerca dos assuntos espirituais, ajustados consoante os participantes, que ela assistia com regularidade. Meditava na gruta ou contemplava o Ganges, naquele tranquilo local a caminho dos Himalaias.
Mais tarde com a abertura dos locais de peregrinação na montanha, este local perde a sua tranquilidade devido à presença dos muitos peregrinos.
Deborah procura um outro local onde não seja perturbada, mais próximo de Rishikesh. A ideia inicial era descobrir uma outra gruta, mas acaba por encontrar uma árvore Banyan, que vem a transformar num 'Santuário'. A localização desta imensa árvore é algo surpreendente pois parece ter sido ali colocada propositadamente à séculos atrás. Dedicou o espaço a Kali, que é adorada, na Índia, como a Divindade no seu aspecto Feminino, representação do Universo.
São durante estas peregrinações praticamente diárias, em que sobe metade de uma montanha, por entre estreitos carreiros de pedras soltas, que algo lhe fala de um outro pequeno eremitério onde existe um "Guru".
É acerca desta experiência que deixo o LINK para um E-mail que ela me enviou. Ela própria diz que é E-mail longo... Fica para quem tiver um pouco mais de paciência.
Nota: Por motivos pessoais omiti o nome do Guru e da 'outra discípula', os quais denominei por "The Guru" e "The disciple", respectivamente.
Desculpem o facto de estar em Inglês.

Namaste
Rui

Morrer em Varanasi

(Transcrevo a introdução do Lonely Planet)
"Varanasi, cidade de Shiva, é das mais sagradas cidades da Índia. Os peregrinos Hindus vêm aqui lavar os seus pecados no Ganges. Varanasi anteriormente chamada Benaras e Kashi (cidade da Luz) foi sempre um auspicioso local para morrer, visto que expirar aqui oferece Moksha - libertação do ciclo de nascimento e morte.
A cidade é o centro do universo Hindu, local de transição entre o mundo físico e espiritual, sendo o Ganges visto como um rio de salvação e eternidade, fluindo permanentemente; símbolo de esperança para gerações do passado, presente e futuro.
A mágica, mas por vezes opressiva cidade, é onde ocorrem os mais profundos rituais de Vida e de morte, nos famosos 'Gates'.
A acessibilidade às práticas que vêm de passados distantes, parecem não ter sofrido o efeito do tempo, é o que seduz muitos dos visitantes."
Hospedei-me no Vishnu Rest House que tem a particularidade de ter, no espaço interno, um templo dedicado a Vishnu, onde os pujas são executados duas vezes por dia. Outra das atracões deste espaço é a vista sobre o Ganges. Foi deste terraço que numa das manhãs vi que a água do Ganges tinha subido cerca de cinco metros! Tinha dificuldade em acreditar; o Ganges passara a ter praticamente o dobro da largura cobrindo agora o imenso areal da outra margem e, caminhar nos Gates tornou-se impossível. As deslocações eram agora feitas pelos minúsculos caminhos existentes na parte mais antiga da cidade. Por vezes, só o facto de ali caminhar é um poderoso exercício de tolerância e paciência... Características estas que por várias vezes pareciam ser testadas em Varanasi. Por exemplo, no 'Gate' das cremações a 'técnica' é convencer os visitantes a dar dinheiro para as famílias mais pobres que não têm posses para comprar lenha. Por vezes é admirável a capacidade de persuasão e estratagemas de certos fulanos!...
O local de cremações, "Manikarnika Ghat", é único e que não me atrevo a descrever... Mas ficam as imagens das grandes pilhas de madeira e os vários corpos a serem cremados em simultâneo...
Nota: Gates - Escadaria que dá acesso ao Ganges. Normalmente usado para rituais de purificação (banhos) e pujas. Existem também os Gates de cremação.
Um dia em Sarnath (Local do primeiro discurso de Buddha)
Se fosse outro o protagonista, seria certamente com satisfação, que riria de uma série de acontecimentos que foram ocorrendo ao longo deste dia: foi o autocarro que não veio, o riquexó (ou rickshaw) que fica sem gasolina (situação resolvida entre sopros para dentro do deposito e empurrar até às bombas, que 'por sorte' não estavam muito distantes), as informações 'esfarrapadas' dos serviços governamentais, o funcionário do museu que quer dinheiro por me ter autorizado tocar numa estátua do Senhor Buddha, do séc. V, que apreciara especialmente; o almoço que não veio e já no outro restaurante era o troco que não vinha... E para finalizar a viajem de regresso a Varanasi tinha tanta água nas ruas (ainda me questiono de onde veio tanta água) que por vezes era mais apropriado um barco do que os riquexós. No final já me ria, que afinal era a única coisa inteligente que podia fazer!
De Sarnath, ficou a tranquilidade do antigo "Parque dos Veados", onde o Senhor Buddha fez o primeiro discurso público; o museu de Sarnath com uma escultura dos "Leões de Ashoka", que é actualmente um dos símbolos da Índia, entre outras peças interessantes.
Um moderno templo, Mulgandha Kuti Vihar, tem belos e expressivos frescos da vida do Senhor Buddha, entre outras atracões.
Novamente em Varanasi e sem especial vontade de andar a ver 'coisas', selecciono de entre os livros que 'carrego', "A Autobiografia de um Yogue", de Paramahansa Yogananda, que havia mais de um ano que ficara em suspenso. Foi com admiração que venho a constatar que vários episódios descritos no livro se passam mesmo ali, a poucos metros do hotel. Descobri a casa de Lahiri Mahasaya (fora Guru do Guru de Yogananda) que passei a visitar diariamente, apesar das obras de melhoramento do edifício.
O livro tem relatos impressionantes e únicos que por muitos motivos é de leitura obrigatória.
Também conheci um curioso Swami com quem tive algumas aulas de Yoga... Não sei ainda se a casa dele é reflexo de total desprendimento das coisas materiais ou expoente máximo de desmazelo; havia objectos no quarto-sala que não eram limpos ou sequer mexidos desde há muitos anos! Seja como for aprendi algumas coisas interessantes... Foi ele que me mostrou uma sobremesa "Dahibarah', que passou a fazer parte da minha dieta diária. "Que delicia!"
Era tempo de seguir... Agora em direcção ao Nepal...
(Como podem ver a publicidade do blogue é muito interessante. :) )
'Que o Puro Amor se Expanda, Agora!'
Rui