segunda-feira, outubro 13, 2008

O Bihar – “Corroído pelo tempo”

Fazendo fronteira a norte com o Nepal, Bihar, parece esquecido no tempo. Em alguns dos locais que visitei o tempo parece passar à velocidade de uma carroça (Tanga), que não fosse o simples chicote seria ainda mais lento...
Bihar aparece profundamente ligado ao Senhor Buddha que passou muitos anos da sua vida em vários locais do Bihar. O local mais conhecido e visitado é Bodhi Gaya, onde Siddharta atingiu o estado Búdico, sendo por isso chamado de “Buddha” – “O Iluminado”.
A vida de Mahavira, contemporâneo de Buddha, que é considerado como o maior promotor do Jainismo, está igualmente ligada a estas terras. Curiosamente, ambos, Buddha e Mahavira, por várias vezes aparecem ligados aos mesmos locais, como são os casos de Rajgir e Vaishali, entre outros.
Segundo o Lonely Planet, “Buddha profetizara que o Bihar continuaria sucessivamente a sofrer de “hostilidade, fogo e inundações” continua a ser verdade. Entre vários outros problemas será a região mais pobre, menos literada e sem lei de todas as regiões da Índia”.
Contudo, em termos históricos este estado terá sido o centro de dinastias, que foram símbolos de prosperidade e progresso. De acordo com o Lonely Planet, “rumores existem de que Pataliputra (actualmente Patna) terá sido, no séc. IV e III a.C., a maior cidade do mundo antigo! Outro período áureo terá sido o reinado dos Gupta, no séc. V d.C.

Bodhi Gaya “e o Templo Mahabodhi”

Quando estive pela primeira vez na área circundante do Mahabodhi o calor era tal que dificilmente conseguia andar descalço naquele piso de arenito vermelho. Deixei para mais tarde.
No exterior do templo os pedintes abundavam sem que fosse algo totalmente fora do comum. O que mais surpreendeu foram as técnicas usadas por alguns adolescentes que em grupo me rodearam. Estas abordagens de carácter amigável trazem sempre “água no bico”. Resumindo: queriam que lhes comprasse um dicionário Inglês-Hindi, que diziam necessitar para um teste que iriam ter dois dias depois; entre muitos outros argumentos, alguns deles muito bem elaborados. Sem me comprometer lá andava eu com um grupo de quatro ou cinco rapazes que me acompanhavam para todo o lado, tipo escolta. Entretanto, fui perguntando aos mais velhos acerca desta situação, que confirmaram as minhas suspeitas. Apesar das muitas informações contraditórias, difíceis de investigar cabalmente, a estratégia do dito dicionário seria para uma posterior venda sendo a verdadeira intenção o dinheiro. Com o passar dos dias cada vez me interpelavam menos... A estratégia, se assim se pode dizer, é não haver qualquer comprometimento; nem nunca dizer que sim, nem dizer que não. (...) Mesmo “talvez” pode dar-lhes esperanças significando um prolongar da escolta.
Ficará certamente uma questão por responder: “Como ajudar aqueles que realmente precisam?” Tendo em conta as imensas carências especialmente nas zonas rurais.

Bodhi Gaya estava relativamente serena, o templo e a famosa árvore Boddhi, onde se encontra o “Vajrasan” (o trono de diamantes), local onde o Senhor Buddha se terá sentado em meditação até alcançar a Iluminação, transmite Serenidade e Presença. Os cânticos em Pali envolvem o Templo; os muitos monásticos que vestidos de diferentes cores dão a conhecer a origem do país e tradição, os muitos peregrinos das mais diversas proveniências, o Templo e a árvore Boddhi criam um ambiente especial dentro da tradição Budista.
Uns dias após a minha chegada, iniciara-se um festival que consiste na “oferta de água em memória dos antepassados”, que dura cerca de 15 dias, onde num ritual simbólico, os Hindus, vão aos rios sagrados e oferecem água, num acto que supostamente apela às deidades para benefício dos parentes falecidos.
Muitos eram os Hindus que em grandes grupos visitavam o Templo Mahabodhi...

“A moto de Raj”
Nestes dias conheci Raj que de uma forma simpática me falou do seu projecto de montar uma agência de viagens. As condições que tem são escassas; uma simples moto e a possibilidade de alugar um espaço parecem ser as bases do projecto. Simpatizei com ele e foi na sua moto que conheci alguns locais interessantes em volta de Bodhi Gaya.
Caves Templo de Dungeshwari
Visitamos as Caves Templo de Dungeshwari onde o Senhor Buddha terá passado os seis anos de grandes austeridades. O calor mantinha-se dentro da Cave, que parece um ovo gigante, apesar da frescura daquela manhã. Em volta a simplicidade reina, com um ou outro Templo muito simples, junto da Cave. O local, bem simbólico, não parece atrair as atenções das multidões...
Stupa de Sujata
Mais próximo de Bodhi Gaya uma antiga stupa marca o local onde Sujata ofereceu leite de arroz ao Senhor Buddha, episódio que acontece quando Buddha finaliza os seis anos de austeridades e se desloca a caminho da árvore Bodhi. Tal acontecimento estará profundamente ligado ao reconhecimento do “Caminho do Meio”.
Caves Barabar
Umas outras caves, conhecidas como “Caves Barabar” atraíram a minha atenção. Foram escavadas em grandes maciços de granito e supostamente serviriam como caves de meditação. O local e áreas envolventes são muito bonitos, onde as colinas graníticas aparecem circundadas pelos campos verdes de arroz... A manutenção e limpeza do espaço deixam muito a desejar...
No interior das caves, chama a atenção a simplicidade da construção e a atenção que deram ao polimento das paredes e alguns tectos. Normalmente estes espaços são rectangulares havendo, por vezes, uma segunda câmara circular. O interior das caves irradiam forte calor o que me levou a questionar o propósito para o qual dizem que era usado...

“Um dia em Nalanda”

Desde há muito que tinha assinalado no meu mapa uma visita a Nalanda, tendo tido o prazer de concretizar este intento ao deslocar-me ao local que fora uma referência do conhecimento em toda a Ásia.
Referindo novamente o Lonely Planet: “Fundada no séc. V d.C., Nalanda foi uma das grandes Universidades antigas e um importante centro de conhecimento Budista.
Quando o escolar e viajante Chinês, Xuan Zang, visitou o local, entre os anos 685 e 762 d.C. cerca de 10.000 monges e estudantes residiam aqui estudando teologia, astronomia, metafísica, medicina e filosofia. Nalanda tinha três bibliotecas que eram tão extensas que arderam durante seis meses quando os Afegãos saquearam a Universidade no séc. XII”
Mishra, o guia local, explicava-me que “Nalan” seria um nome usado para a flor de lótus que representa o conhecimento. “Da” estará ligado à ideia de dar, transmitir... Esta será uma das várias explicações para o nome “Nalanda”. “Dar conhecimento”, o que faz muito sentido dentro da filosofia Budista.
O que se vê actualmente das edificações, apesar de significativo, é uma pequena parte do que teria sido esta Universidade.

No último dia em Bodhi Gaya almocei com Raj. Ele levou-me a um simples restaurante onde paguei 30 rupias pelos dois almoços (famosos thali), o que equivale a dizer que almoçamos, os dois, por cerca de 60 cêntimos! Por algum motivo ele simpatiza com aquela família, que como tantas outras, tem imensos filhos e recursos escassos. Falou-me de uma das raparigas da família que gostava de continuar a estudar mas que terá parado por falta de meios mínimos. O valor necessário é de 20/30 USD mensais. Expliquei-lhe que na minha presente situação não me poderia comprometer com encargos fixos, mas também lhe disse que nunca se sabe o que pode acontecer... Se algum dos utilizadores deste blogue estiver disponível certamente que encontraremos a melhor forma de apoiar esta rapariga.
Site do Turismo do Bihar: www.mahabodhi.com/en/temple-complex.htm

Nota: "Clicando esta' estimulando!..."

Sem comentários: