Esta experiência começa quando recebo um e-mail, do Brasil, do meu amigo Thierry que conhecera cerca de 2 anos antes, bem perto de Lakshman Jhula, local onde me encontrava.
Estava "meio retido" pois com tanta viajem e alterações climatéricas encontrava-me a recuperar de uma constipação e a aguardava que Guruji "descesse" dos Himalaias, pois só com as formalidades e respectivas autorizações podia instalar-me no Atmakutir.
O dito e-mail falava de "um processo" pelo qual é possível viver unicamente de prana e de como o por em prática. Devo dizer que o entusiasmo foi crescendo à medida que ia lendo o livro no portátil que transporto comigo.
Não pude evitar de me por à experiencia do dito processo mesmo sem ter terminado a referida leitura. Tal veio a acontecer após breve passagem pelo Atmakutir e após sugestão de Guruji para deslocar-me a um pequeno ermo, em Vindhya Vasani, para a celebração do Navratri, com outros elementos do Ashram.
Ainda no Atmakutir e na noite anterior ao iniício do referido Navratri o rugido bem sonoro de um tigre fez-se ouvir. O tigre (ou o leão) está profundamente ligado a Durga que é o centro desta celebração. Este animal aparece sempre com a sua montada (veículo) e como a linguagem do Universo é a sincronicidade só se poderia fazer uma leitura auspiciosa. Na realidade esta foi a forma que o Hinduísmo encontrou para venerar a parte manifestada da criação através da Mãe Durga (Mãe Divina). Cada dia desta celebração lembra um dos seus aspectos. Por tradição durante estes dias só se toma uma refeição por dia dentro de um ambiente que evite exteriorização, razão pela qual nos encontrávamos ali.
No último dia estávamos reunidos junto de uma imensa arvore Banyan, espécime com muitas centenas de anos, talvez mesmo milhares e ligada a diversos seres que ali realizaram as suas práticas espirituais. Assim estávamos ali reunidos para o Havan (ou Yagnya) que consiste num ritual védico que tem por base o elemento fogo como canal.
Tudo estava sereno, o vento era praticamente inexistente, o fumo do incenso subia em pequenas ondulações como se se espreguiçasse lentamente. O fogo tornou-se forte, na realidade demasiado forte o que fez afastar alguns elementos ligeiramente, eu inclusive. É neste ambiente de inicio de Havan que o inesperado acontece quando um imenso enxame de abelhas enfurecidas inicia um ataque massivo sobre nós! O calor do fogo subira ate à colmeia existente nos ramos superiores e fizera soar "o alarme"... Quanto a nós nada havia a fazer senão correr o mais rápido possível. Nunca me tinha visto em tal situação; a ser constantemente picado corria descalço sobre pedras ladeira acima, quase sem ver o caminho com tanto movimento de mãos... uma fuga que parecia simplesmente fora de controlo!
Foram as duas divisões que funcionaram como quartos a nossa salvação pois todo o enxame perseguiu os desprotegidos alvos. Mais de vinte picadelas pude contar para além das muitas outras que se ficaram pela roupa!
Para além de todo o aparato da situação não houve consequências de maior; meia dúzia de dias foram suficientes para que os sinais deste massivo ataque começassem a desaparecer.
Uns dias mais tarde, eu e Niraj, para celebrar os seus seis meses de sadhana, encontrávamo-nos no mesmo local a executar o mesmo ritual e não houve qualquer problema. Parece que o único problema foi mesmo o excesso de calor que provocou o "alarme" na colmeia, nada mais.
O dito Havan foi terminado mesmo ali num dos quartos pois as abelhas continuaram a rondar o local durante longo tempo.
Refira-se que estes espaços estão dentro do Parque Natural e são muitos os animais facilmente visíveis: veados, javalis, raposas, tigres e até elefantes, para alem dos muitos outros animais onde se destacam os imensos pássaros tendo o pavão presença praticamente diária.
Peço a Guruji para ficar mais uns dias pois parecia-me que ali se reunião as condições ideais para por em prática o dito "processo de alimentação pranica".
Resumidamente, os vinte e um dias do "processo" estão repartidos por três fases. Os primeiros sete dias só se ingerem líquidos. Nos sete dias seguintes só se almoça uma sopa e na terceira semana não se ingere nada: nem líquidos nem sólidos!
Vejo-me assim a passar por este processo de purificação físico e mental... A confrontação interna é bastante forte pois passa-se por uma experiência onde o "desconhecido" marca presença permanente e não havia ninguém a quem recorrer.
A última semana foi especialmente difícil pois o calor era imenso o que me levou a ter de beber agua uma vez por dia, o que tinha de ser feito com contenção pois a tendência natural era ingerir grandes quantidades.
Para quem quiser conhecer esta realidade fica a informação do livro que tem uma abordagem muito positiva, diria de certa forma que é demasiado positiva. As diferentes etapas de mudança de alimentação como fases preparatórias parecem ser factores indispensáveis para ajustar o corpo e mente para tal prática. Parece-me sensato que só depois de verificar a adaptação saudável do corpo e mente a uma alimentação de sumos naturais e vegetais, com a motivação correcta e tendo por base o auto conhecimento interno baseado na meditação o indivíduo deveria ponderal a eventualidade de tal prática. A prática não deveria ser o objectivo em si mesma mas a consequência de uma vida espiritual equilibrada e sustentada que pode ter este caminho como uma continuidade natural.
No meu caso pessoal, o meu corpo físico não estava suficientemente preparado para "suportar" tal prática. Reconheci-o durante o processo e tive a conformação posterior, provinda de mais que uma fonte, que esta prática não é indicada para mim. O médico Ayurvedico disse-me directamente que não deveria fazer estes jejuns longos. Actualmente procuro ir à raiz dos problemas procurando sarar as mazelas e recuperar o peso perdido tendo, dentro do possível, uma alimentação saudável.
Contudo, a prática do jejum não está totalmente posta de lado. Uma vez por semana e com a devida atitude, em total serenidade e elevação espiritual pode ser uma prática muito positiva a todos os níveis.
Como me referiu a minha amiga Maria acerca do assunto:
"Quanto aos jejuns, nunca aconselho grandes prolongamentos. Um dia chega. O que é necessário é a atitude correcta para fazer jejum. O motivo deve ser sempre a purificação, não só corporal como espiritual, pois todos os corpos beneficiam da ausência dos alimentos. Assim, se o objectivo for, obter maior compreensão sobre si mesmo através de um dia de silêncio e de jejum, deve ter em conta que os benefícios resultam se não houver dispersão.
Ou seja para um jejum deve haver a correcta atitude espiritual, pois assim pode alcançar maior expansão de consciência e obter maior Integração com o seu Eu Superior e a consequente União. Fazer jejum apenas para purificar o corpo não vai resultar tanto como se o fizer com o objectivo espiritual."
Entretanto finalizando "o processo" mas mantendo o silêncio tenho a surpresa da presença de uma Mexicana que ali passou alguns dias para as suas práticas que envolviam longo tempo junto à arvore Banyan numa atitude meditativa e contemplativa. Mais tarde tive o prazer de conhecer as suas várias experiências fruto de mais de 20 anos de contacto com a Índia. Através dela fiquei a conhecer um pouco das suas vivências com Papaji, um discípulo de Sri Ramana Maharshi. Foi com surpresa que soube que visita Portugal com regularidade para se encontrar com Gangaji, a mais directa discípula de Papaji, que vive no Algarve! Ainda lhe disse que por este andar não precisaria de voltar à Índia pois posso encontrar tudo o que preciso em Portugal! :) Coincidências ou talvez não.
Mais uma vez parece que estas partilhas têm tendência para se estenderem...
Que o Amor se inflame no coração daquele que O busca (O Puro Amor)
rui
http://www.esnips.com/doc/f3f04eb4-d8bf-4edb-9fe1-af0d3f7201d4/Jasmuheen-Viver-de-Luz
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