quinta-feira, julho 20, 2006

NEPAL 5 - Lumbini


(ATENÇÃO: LER POR ORDEM CRESCENTE: NEPAL 1, 2, 3, 4 e 5).


Lumbini é o local do nascimento de Siddhartha Gautama, aquele que viria a ter os atributos de Buddha e chamado de "Buddha". Lumbini fica a sul do Nepal e já próximo da fronteira Indiana.
Maya Devi, a mãe de S. Gautama, terá ido em viagem de Kapilavastu, onde morava, em visita aos seus pais. É em plena viagem que vem a nascer o futuro Buddha. No local existe um pequeno lago, considerado sagrado e onde supostamente Maya Devi se terá lavado. Vestígios vários do primeiro templo dedicado a Maya Devi e o local onde Gautama terá nascido, conhecido como "Marker stone", encontram-se dentro de um edifício de construção recente (Foto).
No redor existem vários vestígios de outros edifícios, como mosteiros, stupas... de várias épocas. Existe um "Pilar de Ashoka", o imperador peregrino que esteve nos locais mais importantes da vida de Buddha.
Como se sabe o budismo foi praticamente esquecido após o séc. V na Índia e Nepal. Muitos destes locais, no Nepal, só recentemente têm sido alvo de pesquisas arqueológicas credíveis como é o caso de Kapilavastu, onde Gautama terá vivido a sua vida palaciana e completamente "afastado das misérias do mundo", por imposição do pai.
Entre vários vestígios, ainda existe uma parte daquele que terá sido o portão que Gautama terá passado quando abandonou o palácio. Hoje só existe uma parte desta arcada que se encontra dobrada na base, reflexo dos séculos e da fragilidade dos tijolos de barro; ou será que se dobraram à grandeza de tão grande ser? (foto)
Em Lumbini estão em construção, num projecto integrado, vários mosteiros e templos que são oriundos dos países onde o budismo tem forte expressão, havendo contudo outras situações como caso dos templos Alemão e Francês. Entre estes templos já construídos destaco o da China e Tailândia.
Fiquei uns dias no mosteiro Coreano que tem em construção um imponente templo de três andares. O local é muito tranquilo e a comida Coreana tem sido uma óptima descoberta. Estive no mosteiro até dia 18 de Julho seguindo em direcção ao Punjab, mas tal será noticiado numa próxima oportunidade.

Tudo de bom para Vós e não se esqueçam de ir vendo (clicando) a publicidade deste blog. :)
Namaste
R.P.

NEPAL 4 - Pokhara

Pokhara fora nos anos 70 uma espécie de paraíso de Yuppies que ao passarem por aqui acabavam por ficar muitos meses, por vezes anos... Para além de algumas plantas especiais, compreende-se o encanto de Pokhara, com um clima um pouco mais fresco, um belo lago com mais de 6 kms e as magnificas paisagens dos himalaias... Que eu só vi nos postais, já que devido às "nuvens estacionárias da monção" mantiveram as montanhas permanentemente encobertas.
Apesar de bastante turístico continua a ter o seu encanto. É de Pokhara que se iniciam muitos dos trekkings de alta montanha, sendo o mais popular o de Annapurna.
Das várias actividades que, eu e o Nuno fizemos, destaco o rafting. Não fosse a calma dos outros elementos (organização e tripulação), acho que não teria entrado no bote! Foi como espécie de prova, enfrentar certos medos.
As sensações variam entre o fluir com o próprio rio no interior das montanhas e os momentos de maior agitação e turbulência, superados pelos movimentos sincronizados da tripulação à ordem do "comandante", com uns banhos refrescantes à mistura.
De regresso a Pokhara, viajamos num autocarro local, e qual não é o nosso espanto, ao ver os últimos lugares ocupados por cerca de 30 cabras! Com bilhetes especiais, a um terço do normal e "direito" a sair pela janela (foto).

NEPAL 3 - A experiência de Nuno


Nuno Pereira, saíra há cerca de um ano de Geneve, na Suíça, percorrendo cerca de 20 países até chegar à India. Passando por variados locais de interesse como a Polónia, Ucrânia, Roménia, Turquia, Irão, Afeganistão, Paquistão e finalmente a Índia, entre outros. É o contacto com a Índia que trás alterações significativas na sua viagem. Abaixo ficam as suas primeiras impressões aquando da chegada a esta terra, retirado do mail que enviou aos amigos, numa transcrição integral:
Foto tirada junto à Pagoda da Paz, em Lumbini.
Um abraço pela PAZ.

"Amigos,

Após um mês de viagem pela Índia, vou tentar pôr durante instantes a preguiça de lado, para vos transmitir as minhas primeiras impressões sobre este extenso e misterioso pais. Mas como pôr a Índia 'por escrito', sem cair na caricatura ou nos lugares-comuns?

Assente na propaganda do primeiro cartaz que vi ao passar a fronteira ('India the largest democracy in the world welcomes you'), eu tinha previsto falar-vos de política, desta 'democracia' à indiana, onde todos opinam sobre (quase) tudo - aliás aqui é costume dizer que 'cada parede é um mijadouro', o que é verdade no sentido próprio e figurado... Depois, eu teria passado a falar da inamovível religião - a dos digníssimos Sikhs de Amritsar ou a dos milhões de templos hindus, com as suas estatuetas kitsch de deuses sorridentes, que ninguém deveria levar a sério. Teria acrescentado um ou dois comentários triviais sobre a pluralidade da sociedade indiana, com as suas centenas de línguas e de comunidades.

Não teria obviamente deixado de destacar as escandalosas injustiças sociais, que acarretam os seus ultrajes diários, patentes a cada esquina, que indicam uma divisão social cruel, da qual sofrem sobretudo todos os anónimos que a burocracia bem-pensante estampilha BPL ('below poverty line'), que passam a vida a sobreviver, no campo ou sobre o chão das cidades.

Depois dessa introdução, teria continuado narrando-vos alguns encontros marcantes, como o de Mady, jovem cujos pais recompensaram com um 'bamboo massage', quando souberam que ele frequentava uma rapariga oriunda de uma casta inferior. Ou o de Nyima, o sempre optimista professor tibetano de Dehra Dun, que carrega com um sorriso a memória do exílio. Não teria esquecido de vos apresentar o canhoto Dalir, que me confessou odiar deus, desde que este lhe retirou as faculdades da mão esquerda (consola-se dizendo que, pelo menos, os seus órgãos sexuais não foram atingidos...). Ter-vos-ia também contado os meus primeiros contactos com os enigmáticos sadus e com os menos enigmáticos garotos que jogam criquete sobre os ghats de Varanasi. Esta cidade até teria proporcionado o quadro mais pitoresco, com as suas ruas labirínticas que cheiram a incenso e a merda de vaca, com os seus inúmeros peregrinos, que se lavam, fazem a 'puja' (cerimonia de oferenda e reza), o seu yoga, ou as suas necessidades a beira do 'Ganga'; com aquele velho boatman, que me contou que o whiskey local purifica quase tanto quanto a agua benta do Ganges, que o velhote até bebe sem medida, apesar da concentração bacteriológica assustadora.

Para fazer crescer agua na boca e vos incitar a visitar este pais, teria feito quaisquer observações sobre as maravilhas da comida indiana. Todavia, ter-vos-ia de imediato aconselhado a não pôr os pés aqui, para evitar o assedio descarado de que os turistas são frequentemente vitimas.

Teria terminado com uns relatos animalescos, para vos comover. Da narração das minhas brincadeiras com os macacos, teria prosseguido com a história de uma cadela de Allahabad, que faz de policia a volta do cadáver de um (o seu?) cachorro. Misturando ternura e nojo, ter-vos-ia logo a seguir descrito como os cães devoram durante três dias um cadáver de vaca pranha, que comeu provavelmente demasiados jornais antigos. Dando a derradeira estocada, ter-vos-ia por fim descrito o cheiro de carne (humana, desta feita), que arde no Harishchandra Ghat de Varanasi.

Mas chegou o tempo da ruptura. A Índia acabou com a rotina de viagem na qual eu me comprazia. Este país desgastaste põe constantemente à prova o viajante. Os meus hábitos transformaram-se de forma significativa: passo semanas sem comer carne (inexistente nalguns locais), curo-me com porridge de banana e cha massala. Escovo os dentes com pasta ayurvedica (sem flúor, mas com bastante espuma) e apercebo-me através de algumas sessões de yoga a que ponto o meu corpo esta enferrujado após 7 meses de viagem e 28 anos de descuido...

Também devo reavaliar as minhas interacções com as pessoas, que se fazem por vezes em modos desnorteantes, e até contrários aos meus princípios. Novos (ou velhos) sentimentos aparecem: raiva, ira, impaciência. É necessário compreendê-los e geri-los.

Sigo o Ganges, rio abaixo, rio acima, sem saber ao certo aonde vou. As etapas esboçam-se no dia-a-dia. Experimento a lentidão, a arte de fazer pausas na viagem, sem estar sempre a olhar para o relógio ou para o calendário. Passo por conseguinte ao lado de muitos eventos (festivais...) e só chego a Allahabad depois do fim do Magh Mela, para observar os mergulhos de jovens pescadores na corrente rápida do Ganges, à procura de moedas que os milhares de peregrinos atiraram para o rio. Já não me apetece andar em correrias par ver tal monumento, tal lugar, para assistir a tal manifestação.

Confesso que nunca me senti tão sozinho nesta viagem. O que não deixa de ser um paradoxo num país que conta mais de um bilhão de habitantes (400 milhões só na bacia do Ganges!), com ruas abarrotadas de gente, rickshaws (a pedais ou com motor) e vacas. Sofro de solidão, mas também opto pela solidão. Chegou o tempo da reflexão e da introspecção, da incerteza, de por em causa vários condicionamentos. Enquanto a realidade social de um pais radicalmente diferente daqueles que atravessei até agora se vai progressivamente dando a conhecer, dou comigo a procurar instrumentos de compreensão no 'mim mesmo'. Absurdo?...

Munido de 1000 dúvidas e da minha ignorância do sub-continente, sou um aprendiz-viajante, que tem à sua frente uma oportunidade rara de perceber o que significam, na prática, a humildade e a compaixão. A humildade, talvez possa enraizar-se no meu próprio nome, que significa 'pila' (pénis de jovem rapaz) em hindi... Compreende-se facilmente que tal cognome é logo à partida um punhal plantado na minha frágil credibilidade... A compaixão, essa, afigura-se-me como uma noção muito mais insondável.

Um abraço cheio de saudades,
Nuno"

terça-feira, julho 18, 2006

NEPAL 2 - Kathmandu

Depois de problemas inesperados com os cartões de multibanco, ficando impossibilitado de levantar dinheiro, vejo-me em Kathmandu com uns troco e vários dias de espera, até que volte a ter os novos cartões. Situação resolvida com a preciosa ajuda da minha família a quem agradeço.
A situação era propícia para encontrar alguma actividade mais interessante do que esperar por cartões de multibanco.
Assim inscrevo-me no segundo curso Vipassana, que começava no dia seguinte (de que já falei anteriormente).
Os primeiros dias foram um pouco complicados pelas dores e tosse, que me desconcentrava a mim e certamente aos outros. Acabou por ser uma espécie de purificação e a meditação acabou por ser mais profunda e sentida que da primeira vez.
A partir do segundo curso passa-se a "Old student" aumentando as restrições de acordo com os preceitos Budistas (Sila), mas em termos práticos equivale a dizer que após o almoço não há mais alimentos, só um "lemon water", que ganha um sabor especial.
A grande surpresa estava para chegar, quando no último dia, já depois de "quebrado o silêncio", abraço muito espontaneamente um fulano que fala comigo em português. Não sei se foi pelos dias de Silêncio ou por ser o primeiro português que encontro após 6 meses de viagem! Chama-se Nuno Pereira, vive na Suíça há alguns anos, ensina história e é bem Português! Havia também Nicolas, francês, que vive no Brasil e fala bem Português, entre vários ocidentais.
Como "não ha três sem duas", venho a encontrar um outro Português, de Leiria, que viajava há um ano e meio. Daniel que numa história de encantar vem a conhecer uma Nepalesa, de Pokhara, com quem casara à cerca de uma semana. Relações Luso-Nepalesas que desejo as maiores felicidades.
Depois do Vipassana, quando voltei à cidade as pessoas que conhecia tinham mudado, os problemas com cartões já não existiam e sentia-me bem mais saudável! A selecção tinha passado a fase de apuramento o que foi bom de se saber. Não fui o único a vibrar com a selecção Portuguesa. Os Nepalesas vibram com o futebol torcendo pelas equipes mais desconhecidas e com menos palmares. No centro comunitário do campo de refugiados tibetanos p.e., em Pokhara, no jogo das meias-finais, 75% estavam por Portugal e os restantes pela França. Chegamos a ver camisolas da Selecção! Sem dúvida que cria uma maior proximidade, falavam de Portugal, do Figo, do C. Ronaldo...
Partilhando algumas actividades com o Nuno ainda visitamos Patan (foto) e Baktapur,
nos arredores de Kathmandu. Destaco os centros destas localidades que nos transportam a tempos medievais com os seus palácios e variados templos continuando estes a fazer parte da vida das pessoas. Muitos deles continuam a permitir só a entrada a Hindus.
A construção da maior parte dos edifícios era e é feita com os "tijolos de burro" e com magníficos trabalhos em madeira que embelezam as janelas, portas e telhados. Autênticas obras de arte.

NEPAL 1 - Kathmandu

Quando pensava que tinha que me deslocar ao Nepal para renovar o visto, que terminava em Junho, ficava um pouco ansioso. Nada de especial me atraia, as noticias que ainda no mês de Abril se viam na TV contribuíam para aumentar este estado de dúvida. Depois do "Abril quente" onde a oposição lutou contra o sistema monárquico, entrou-se num período de alguma normalidade. Parece que o rei cedeu às posições da oposição e entraram num processo de negociações... Que não será fácil pois há partidos que querem rei, outros que nem por isso. Alem disso há ainda os Maoistas que estão no terreno com armas, controlando as áreas mais interiores do Nepal. Actualmente elabora-se uma nova constituição com o objectivo de democratizar o país.
Do mapa que comprara à entrada do Nepal ouve duas coisas que me chamaram a atenção "Nepal enjoys the distinction of being the only Hindu Kingdom in the world", tendo em conta que foi aqui que nasceu Siddhartha Gautama, foi algo que surpreendeu.
A outra foi "Nepal has more 60 ethnic groups and 70 spoken languages", para um universo de pouco mais de 20 milhões de habitantes! É contudo o Nepali (Nepalês) e o Inglês as mais comuns, pelo menos nos locais turísticos.
Assim depois de passar a fronteira em Kakarbhita, faço uma viagem de 21 horas de autocarro ate Kathmandu, não sem antes haver os percalços do costume, como um furo e uns problemas de motor. Tudo se resolve, mesmo durante a noite com as falhas habituais de luz eléctrica!
Kathmandu está calma, havendo alguns soldados nas ruas que patrulham calmamente os pontos mais importantes da cidade. Parece haver alguma preocupação com os turistas que a par da monção praticamente desapareceram. Os Nepaleses vivem um ambiente de alguma incerteza, desconfiança, mas acima de tudo existe uma grande esperança no futuro.
O turismo tem uma importância fundamental no Nepal, principalmente o turismo ligado às montanhas: trekking de alta montanha e vários desportos radicais. Protegidas pelos 16 parques nacionais fazem dos Himalaias Nepalês um paraíso do trekking e observação da vida selvagem.
Encontrei Shoko de Espanha, envolvido com as suas novas tatuagens e James da Escócia que procurava resolver um problema com o passaporte, conhecimentos de locais anteriores.
Visitei Swoyambhunath stupa também conhecida como "templo dos macacos" e Boudhanath Stupa ambos ligados ao budismo e relevantes pela antiguidade e centros de peregrinação.
O que mais me impressionou foi Pashupati Nath Temple. Templo Hindu onde fazem as cremações, que apesar da chuva foi possível observar. Quão rápido desaparece um corpo! Cerca de uma hora é suficiente para ficar reduzido a cinzas, que por sinal são atiradas ao rio. Na Durbar Square visitei Kumari Temple. Kumari é uma representação da divindade. É uma moça virgem que vive cerca de um ano no templo como símbolo de pureza, sendo possível vê-la às 4:00 p.m. na janela do templo.
A foto em baixo é do Pashupati Nath Temple. Representações de Shiva.