Um dia vejo muitas pessoas em minha volta que de gravatas soltas, fazem um silêncio sussurrado entre os passos cadenciados... Algumas pessoas parecem dizer as mesmas coisas mas pouco percebo... Tudo parece ter pouco sentido... Contudo pareço sentir-me bem.
Quero dizer àquela gente alguma coisa mas por algum motivo não consigo mexer-me, o próprio respirar é nulo... ou quase... Percebo que há muito que não usava a fala, parecia simplesmente que a garganta estava colada, que se tinha tornado rígida... é difícil explicar.
Existe um senhor de cores brancas que faz gestos para mim com um ar da simpática inevitabilidade e algo distante lê um livro, como se já o tivesse lido muitas vezes...
Faz-se escuro. Estou ali deitado naquela imperceptível respiração... A superfície parece ser de cetim mas não sei ao certo e no peito puseram uma cruz de metal frio. Um balouço desconcertado faz-se sentir seguido aos ruídos que fazem lembrar estar no meio de uma trovoada... Uma forte trovoada!...
E como sempre... Após a tempestade a bonança! Um silêncio ensurdecedor faz-se ouvir. E teve a duração de muitos anos! É como se todos tivessem desaparecido...
E ali estava eu deitado; e contudo sentia-me bem! Quase que poderia dizer que me sentia feliz.
Mas quem estava ali deitado?
Um Dom Quixote que se cansara de lutar contra moinhos de vento?
Um Sancho Panca que gozara tudo o que havia para gozar?
Alguém com preguiça? Como alguém que bem conheço, às vezes, diz: "O que é que estas ai a fazer alapado?" Alguém que não sabe para onde ir? Que perdeu toda a motivação? Que foi cilindrado pela sociedade? Que prefere não ver o que se encontra ao seu redor?...
Que amara e se decepcionara? Ou se incompatibilizou com a sua contraparte, vulgo sexo oposto?...
Alguém que não quer sofrer?...
Alguém incapaz de novas conquistas?...
Não sei, não sei, não sei e não sei! Pouco importa; o que importa é que gostava de estar ali.
Durante muitos anos fui sobrevivendo com o pouco ar que vinha entre as finas areias, que pareciam envolver aquela estrutura, onde continuava deitado sem qualquer movimento... Só mesmo aquela imperceptível respiração...
Por vezes eram muitos os pensamentos que me passavam pela cabeça... que quase me faziam esquecer que estava ali deitado... Esta agitação do pensar certamente era provocada pelo pouco ar e por uma sensação de sufoco que era permanente... As próprias emoções tinham de ser controladas pois o pouco ar era insuficiente para expressa-las o que parecia comprimi-las ainda mais!...
Durante todos esses anos procurei adaptar-me a esta insuficiência de oxigénio ajustando a forma de viver mas por muito que ajustasse o ar era sempre insuficiente...
Talvez quando lá fora chovia o ar tornava-se mais fresco sendo possível encher os pulmões com ar refrescante que me trazia as vagas lembranças de outros tempos onde era possível respirar de pulmão completo e sentir que o ar que esta dentro é o mesmo que está fora, sentir o ar sem cheiro ou com leves aromas que emanam paz e contemplação... Ou o cheiro da água indolor que exala frescura húmida como a dizer: "Brinca comigo", "Bebe-me, banha-te, lava-te, adoça-te.", "Sê também tu água em mim, tu que também és feito de mim"
(...)
Porque será que me doem os pulmões?
Félix (R.P.)
Quero dizer àquela gente alguma coisa mas por algum motivo não consigo mexer-me, o próprio respirar é nulo... ou quase... Percebo que há muito que não usava a fala, parecia simplesmente que a garganta estava colada, que se tinha tornado rígida... é difícil explicar.
Existe um senhor de cores brancas que faz gestos para mim com um ar da simpática inevitabilidade e algo distante lê um livro, como se já o tivesse lido muitas vezes...
Faz-se escuro. Estou ali deitado naquela imperceptível respiração... A superfície parece ser de cetim mas não sei ao certo e no peito puseram uma cruz de metal frio. Um balouço desconcertado faz-se sentir seguido aos ruídos que fazem lembrar estar no meio de uma trovoada... Uma forte trovoada!...
E como sempre... Após a tempestade a bonança! Um silêncio ensurdecedor faz-se ouvir. E teve a duração de muitos anos! É como se todos tivessem desaparecido...
E ali estava eu deitado; e contudo sentia-me bem! Quase que poderia dizer que me sentia feliz.
Mas quem estava ali deitado?
Um Dom Quixote que se cansara de lutar contra moinhos de vento?
Um Sancho Panca que gozara tudo o que havia para gozar?
Alguém com preguiça? Como alguém que bem conheço, às vezes, diz: "O que é que estas ai a fazer alapado?" Alguém que não sabe para onde ir? Que perdeu toda a motivação? Que foi cilindrado pela sociedade? Que prefere não ver o que se encontra ao seu redor?...
Que amara e se decepcionara? Ou se incompatibilizou com a sua contraparte, vulgo sexo oposto?...
Alguém que não quer sofrer?...
Alguém incapaz de novas conquistas?...
Não sei, não sei, não sei e não sei! Pouco importa; o que importa é que gostava de estar ali.
Durante muitos anos fui sobrevivendo com o pouco ar que vinha entre as finas areias, que pareciam envolver aquela estrutura, onde continuava deitado sem qualquer movimento... Só mesmo aquela imperceptível respiração...
Por vezes eram muitos os pensamentos que me passavam pela cabeça... que quase me faziam esquecer que estava ali deitado... Esta agitação do pensar certamente era provocada pelo pouco ar e por uma sensação de sufoco que era permanente... As próprias emoções tinham de ser controladas pois o pouco ar era insuficiente para expressa-las o que parecia comprimi-las ainda mais!...
Durante todos esses anos procurei adaptar-me a esta insuficiência de oxigénio ajustando a forma de viver mas por muito que ajustasse o ar era sempre insuficiente...
Talvez quando lá fora chovia o ar tornava-se mais fresco sendo possível encher os pulmões com ar refrescante que me trazia as vagas lembranças de outros tempos onde era possível respirar de pulmão completo e sentir que o ar que esta dentro é o mesmo que está fora, sentir o ar sem cheiro ou com leves aromas que emanam paz e contemplação... Ou o cheiro da água indolor que exala frescura húmida como a dizer: "Brinca comigo", "Bebe-me, banha-te, lava-te, adoça-te.", "Sê também tu água em mim, tu que também és feito de mim"
(...)
Porque será que me doem os pulmões?
Félix (R.P.)
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