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sexta-feira, junho 19, 2009
Char Dham
A última peregrinação por terras da mãe Índia, no estado do Uttarkand... tendo passado por Yamunotri (nascente do Yamuna), Gangotri (Gaumukh - principal nascente do Ganges), kedarnath (próximo das nascente do rio Mandakini) e Badrinath (próximo da nascente do rio Alaknanda). Conhecido por Char Dham estes quatro locais são considerados sagrados e auspiciosos...
"Peregrinar dentro de mim"
A todos os que têm acompanhado este meu peregrinar desejos das melhores vibrações do alto das montanhas.
Namaste
Rui
domingo, junho 07, 2009
Quarenta dias em Vindhya Vasani
Esta experiência começa quando recebo um e-mail, do Brasil, do meu amigo Thierry que conhecera cerca de 2 anos antes, bem perto de Lakshman Jhula, local onde me encontrava.
Estava "meio retido" pois com tanta viajem e alterações climatéricas encontrava-me a recuperar de uma constipação e a aguardava que Guruji "descesse" dos Himalaias, pois só com as formalidades e respectivas autorizações podia instalar-me no Atmakutir.
O dito e-mail falava de "um processo" pelo qual é possível viver unicamente de prana e de como o por em prática. Devo dizer que o entusiasmo foi crescendo à medida que ia lendo o livro no portátil que transporto comigo.
Não pude evitar de me por à experiencia do dito processo mesmo sem ter terminado a referida leitura. Tal veio a acontecer após breve passagem pelo Atmakutir e após sugestão de Guruji para deslocar-me a um pequeno ermo, em Vindhya Vasani, para a celebração do Navratri, com outros elementos do Ashram.
Ainda no Atmakutir e na noite anterior ao iniício do referido Navratri o rugido bem sonoro de um tigre fez-se ouvir. O tigre (ou o leão) está profundamente ligado a Durga que é o centro desta celebração. Este animal aparece sempre com a sua montada (veículo) e como a linguagem do Universo é a sincronicidade só se poderia fazer uma leitura auspiciosa. Na realidade esta foi a forma que o Hinduísmo encontrou para venerar a parte manifestada da criação através da Mãe Durga (Mãe Divina). Cada dia desta celebração lembra um dos seus aspectos. Por tradição durante estes dias só se toma uma refeição por dia dentro de um ambiente que evite exteriorização, razão pela qual nos encontrávamos ali.
No último dia estávamos reunidos junto de uma imensa arvore Banyan, espécime com muitas centenas de anos, talvez mesmo milhares e ligada a diversos seres que ali realizaram as suas práticas espirituais. Assim estávamos ali reunidos para o Havan (ou Yagnya) que consiste num ritual védico que tem por base o elemento fogo como canal.
Tudo estava sereno, o vento era praticamente inexistente, o fumo do incenso subia em pequenas ondulações como se se espreguiçasse lentamente. O fogo tornou-se forte, na realidade demasiado forte o que fez afastar alguns elementos ligeiramente, eu inclusive. É neste ambiente de inicio de Havan que o inesperado acontece quando um imenso enxame de abelhas enfurecidas inicia um ataque massivo sobre nós! O calor do fogo subira ate à colmeia existente nos ramos superiores e fizera soar "o alarme"... Quanto a nós nada havia a fazer senão correr o mais rápido possível. Nunca me tinha visto em tal situação; a ser constantemente picado corria descalço sobre pedras ladeira acima, quase sem ver o caminho com tanto movimento de mãos... uma fuga que parecia simplesmente fora de controlo!
Foram as duas divisões que funcionaram como quartos a nossa salvação pois todo o enxame perseguiu os desprotegidos alvos. Mais de vinte picadelas pude contar para além das muitas outras que se ficaram pela roupa!
Para além de todo o aparato da situação não houve consequências de maior; meia dúzia de dias foram suficientes para que os sinais deste massivo ataque começassem a desaparecer.
Uns dias mais tarde, eu e Niraj, para celebrar os seus seis meses de sadhana, encontrávamo-nos no mesmo local a executar o mesmo ritual e não houve qualquer problema. Parece que o único problema foi mesmo o excesso de calor que provocou o "alarme" na colmeia, nada mais.
O dito Havan foi terminado mesmo ali num dos quartos pois as abelhas continuaram a rondar o local durante longo tempo.
Refira-se que estes espaços estão dentro do Parque Natural e são muitos os animais facilmente visíveis: veados, javalis, raposas, tigres e até elefantes, para alem dos muitos outros animais onde se destacam os imensos pássaros tendo o pavão presença praticamente diária.
Peço a Guruji para ficar mais uns dias pois parecia-me que ali se reunião as condições ideais para por em prática o dito "processo de alimentação pranica".
Resumidamente, os vinte e um dias do "processo" estão repartidos por três fases. Os primeiros sete dias só se ingerem líquidos. Nos sete dias seguintes só se almoça uma sopa e na terceira semana não se ingere nada: nem líquidos nem sólidos!
Vejo-me assim a passar por este processo de purificação físico e mental... A confrontação interna é bastante forte pois passa-se por uma experiência onde o "desconhecido" marca presença permanente e não havia ninguém a quem recorrer.
A última semana foi especialmente difícil pois o calor era imenso o que me levou a ter de beber agua uma vez por dia, o que tinha de ser feito com contenção pois a tendência natural era ingerir grandes quantidades.
Para quem quiser conhecer esta realidade fica a informação do livro que tem uma abordagem muito positiva, diria de certa forma que é demasiado positiva. As diferentes etapas de mudança de alimentação como fases preparatórias parecem ser factores indispensáveis para ajustar o corpo e mente para tal prática. Parece-me sensato que só depois de verificar a adaptação saudável do corpo e mente a uma alimentação de sumos naturais e vegetais, com a motivação correcta e tendo por base o auto conhecimento interno baseado na meditação o indivíduo deveria ponderal a eventualidade de tal prática. A prática não deveria ser o objectivo em si mesma mas a consequência de uma vida espiritual equilibrada e sustentada que pode ter este caminho como uma continuidade natural.
No meu caso pessoal, o meu corpo físico não estava suficientemente preparado para "suportar" tal prática. Reconheci-o durante o processo e tive a conformação posterior, provinda de mais que uma fonte, que esta prática não é indicada para mim. O médico Ayurvedico disse-me directamente que não deveria fazer estes jejuns longos. Actualmente procuro ir à raiz dos problemas procurando sarar as mazelas e recuperar o peso perdido tendo, dentro do possível, uma alimentação saudável.
Contudo, a prática do jejum não está totalmente posta de lado. Uma vez por semana e com a devida atitude, em total serenidade e elevação espiritual pode ser uma prática muito positiva a todos os níveis.
Como me referiu a minha amiga Maria acerca do assunto:
"Quanto aos jejuns, nunca aconselho grandes prolongamentos. Um dia chega. O que é necessário é a atitude correcta para fazer jejum. O motivo deve ser sempre a purificação, não só corporal como espiritual, pois todos os corpos beneficiam da ausência dos alimentos. Assim, se o objectivo for, obter maior compreensão sobre si mesmo através de um dia de silêncio e de jejum, deve ter em conta que os benefícios resultam se não houver dispersão.
Ou seja para um jejum deve haver a correcta atitude espiritual, pois assim pode alcançar maior expansão de consciência e obter maior Integração com o seu Eu Superior e a consequente União. Fazer jejum apenas para purificar o corpo não vai resultar tanto como se o fizer com o objectivo espiritual."
Entretanto finalizando "o processo" mas mantendo o silêncio tenho a surpresa da presença de uma Mexicana que ali passou alguns dias para as suas práticas que envolviam longo tempo junto à arvore Banyan numa atitude meditativa e contemplativa. Mais tarde tive o prazer de conhecer as suas várias experiências fruto de mais de 20 anos de contacto com a Índia. Através dela fiquei a conhecer um pouco das suas vivências com Papaji, um discípulo de Sri Ramana Maharshi. Foi com surpresa que soube que visita Portugal com regularidade para se encontrar com Gangaji, a mais directa discípula de Papaji, que vive no Algarve! Ainda lhe disse que por este andar não precisaria de voltar à Índia pois posso encontrar tudo o que preciso em Portugal! :) Coincidências ou talvez não.
Mais uma vez parece que estas partilhas têm tendência para se estenderem...
Que o Amor se inflame no coração daquele que O busca (O Puro Amor)
rui
http://www.esnips.com/doc/f3f04eb4-d8bf-4edb-9fe1-af0d3f7201d4/Jasmuheen-Viver-de-Luz
sábado, maio 23, 2009
Ventura da Luz (Reflexões)
No topo da coluna do lado direito (a verde) encontra-se uma nova rubrica: "Ventura da Luz (Reflexões)".
Ele próprio faz questão de se apresentar: "Olá! Eu sou o Ventura da Luz". Parece que gosta de reflectir acerca de vários temas, que desde há muito buscavam e necessitavam de encontrar (ou reencontrar) Ventura da Luz para lhes dar expressão...
Para já foram editados dois textos: "Nos olhos do touro - A Tourada Lusa" e "'Lisboa Nova' e a 'Nova Lisboa'".
Adianto que estes textos nasceram num momento algo especial desta peregrinação, por terras da Mãe Índia; o primeiro texto, "Nos olhos do touro", p.e., veio à luz, casualmente, no dia 25 de Abril, o que é caso para dizer que Ventura da Luz não esta assim tão distante de Portugal.
Sempre que Ventura 'se aventure' numa nova edição farei uma pequena introdução a informar, idêntico ao que agora se apresenta.
Nota: Os referidos textos podem ser divulgados. Excepção feita a qualquer divulgação onde estejam interesses comerciais envolvidos.
Comentários e/ou criticas com abordagem positiva são muito bem vindos.
Rui Pereira
Do texto: "'Lisboa nova' e a 'Nova Lisboa'"
"Desde há vários anos que me faz todo o sentido mudar a capital Portuguesa para outro lugar e à medida que os acontecimentos nacionais vão passando na grande tela das nossas vidas, essa primeira ideia encontrada na vastidão do cosmos continua a luzir. Se já não deixou de ler, certamente estará a pensar: “ Mas o que é que este quer agora?” E eu digo que não quero nada; mas como a vida é aquilo que nós queremos fazer dela, eu neste momento quero continuar a escrever. :) Perguntarão: “Mas porquê?”, “Para quê?”, “Para onde?”, “Com quê?”, “ Quem?”, “Quando?”... Será mais alguma daquelas soluções num estilo bem conhecido de um país que se põe frequentemente em bicos de pés para receber umas ‘palmadinhas nas costas’? Porque mudar uma capital com séculos?"
terça-feira, maio 12, 2009
“Fogo Védico” – Homa Terapia
(terapia divulgada no livro "Homa Therapy – Our last chance")
Falar de Veda é falar das escrituras mais antigas da Mãe Índia onde se aborda o conhecimento do Divino; contudo os Veda abrangem um leque variadíssimo de assuntos, como p.e., política, saúde (Ayurveda), astronomia... entre outras temáticas. Terá sido revelado por seres de grande realização espiritual (Rishis).
É crescente o interesse Ocidental por várias práticas Orientais, como yoga e Ayurveda, numa vertente mais externa, mas também as filosofias que as suportam são alvo crescente de interesse como são os casos do Vedanta e Tantra.
Acerca do yoga, com todas as suas valências, destacaria a Kriya Yoga (ou Raja Yoga), onde o mesmo interesse parece ser cada vez mais significativo, por várias razões e que talvez um dia venha a abordar neste espaço.
Parte significativa da origem de todo este manancial provem destes Vedas!
À medida que o Ocidental vai contactando com estes sistemas e práticas parece reconhecer progressivamente os benefícios de tais abordagens que se aproximam de um equilíbrio e vivências saudáveis, que nos parece ter fugido por entre os dedos. Porém os ensinamentos vão muito mais longe! Mais do que fazer meia dúzia de exercícios, estes textos Védicos indicam várias outras práticas de equilíbrio entre o homem e o ambiente (O homem como parte de um Todo) e acima de tudo veiculam os ensinamentos práticos e filosóficos para que o homem realiza esse ‘Todo’ em si mesmo!!!
Trago as ideias acima para enquadrar uma prática Védica, que parece ganhar uma abordagem ainda mais interessante à medida que a mente Ocidental a põe em prática e se despertam as mentes científicas.
Sem que se saiba exactamente com funciona, o uso do fogo, no contexto do ritual Védico, conhecido como Yajnya ou Homa Terapia, tem provado pelos próprios resultados a sua eficácia (segundo o livro), o que inevitavelmente forçam e estimulam a sua aceitação e investigação.
Deixo a tradução da contracapa de um livro que promove de forma entusiasta esta prática, que diga-se é bem simples de ser praticada e em qualquer lugar. As referências aos benefícios são tantos, que o melhor é comprar o livro (por sinal barato) e experimentar até alcançar os resultados.
"Cura a atmosfera que ela curar-te-á.
Este é o princípio básico da Homa Terapia.
Homa Terapia provem dos Veda, a mais ancestral sabedoria conhecida pela humanidade.
Homa terapia é a ciência de purificação da atmosfera dada pelos Veda. Homa e Yajnya são sinónimos. A prática da Homa Terapia remove as toxinas da atmosfera e tem um fortíssimo efeito nos humanos, animais e reino vegetal, na realidade, em toda a biosfera. As plantas são a base da alimentação humana. O reino vegetal sofre pesadamente devido à poluição atmosférica. "Comida" produzida em atmosfera onde se realize esta prática é ela própria medicinal, actuando preventiva e curativamente. Este aspecto da Homa Terapia na forma de ‘Cultivo Orgânico Homa’, tal como, ‘Medicina Tradicional’, são também abordados neste livro."
Nota final: Segundo o próprio livro, nem Indianos nem Ocidentais sabem concretamente como funciona em termos de reacção das partículas, contudo todo este fenómeno para ter por base as leis da ressonância.
A execução do ritual com a vocalização dos mantras (som), ao nascer e pôr-do-sol parecem anular o efeito da poluição e suas toxinas repondo um ambiente de harmonia, ao ponto de actuar também ao nível dos desequilíbrios e tenções existentes na própria psique humana!
Pela sustentação da vida" rui (R.P.) 29 de Abril de 2009
Livro:
Homa Therapy – Our last chance"
V.V. Paranjpe
Fivefold Path Publication
Monika Koch
Petergasse 2
D-78345 Moos-Bankholzen / Bodensee
Germany
Tel & Fax: +49 (0) 7732 2830
www.homatherapy.de
www.homa-healing-center.com
www.agnihotra-ash-medicine.com
Fivefold Path Mission
40 Ashoknagar
Dhule 424001
Maharastra
India
Tel: 02562-246993
Nota: Por agora deixo estes dois contactos, porem o livro refere outros endereços que podem ser disponibilizados. É só solicitar.
A publicidade e o blogue “naindia”
Durante este tempo o blogue foi evoluindo e a partir de determinado momento passou a ter publicidade correlacionada com os vários assuntos que vou abordando. Até ao momento o blogue teve quase 4000 visitas e pouco mais de 60 U.S. foram reunidos nas visitas á dita publicidade, mas que estão nas contas do Google, esperando que a o valor chegue aos 100 U.S. para desbloquear o pagamento!
Estes 100 U.S. parecem fazer muito mais sentido na minha conta do que nas milionárias contas do Google. :)
Contudo, em nenhuma circunstância pretendo pressionar os visitantes deste blogue... Com ou sem dinheiro da publicidade faço intenções de continuar com estas partilhas, porque também novas e interessantes ideias estão na forja... e enquanto houver quem tenha alguma paciência de as ler... :)
Que as inspirações sejam de parte a parte
R.P.
quinta-feira, março 19, 2009
Onde estive? - Incidentes (Edição do Félix)
Quero dizer àquela gente alguma coisa mas por algum motivo não consigo mexer-me, o próprio respirar é nulo... ou quase... Percebo que há muito que não usava a fala, parecia simplesmente que a garganta estava colada, que se tinha tornado rígida... é difícil explicar.
Existe um senhor de cores brancas que faz gestos para mim com um ar da simpática inevitabilidade e algo distante lê um livro, como se já o tivesse lido muitas vezes...
Faz-se escuro. Estou ali deitado naquela imperceptível respiração... A superfície parece ser de cetim mas não sei ao certo e no peito puseram uma cruz de metal frio. Um balouço desconcertado faz-se sentir seguido aos ruídos que fazem lembrar estar no meio de uma trovoada... Uma forte trovoada!...
E como sempre... Após a tempestade a bonança! Um silêncio ensurdecedor faz-se ouvir. E teve a duração de muitos anos! É como se todos tivessem desaparecido...
E ali estava eu deitado; e contudo sentia-me bem! Quase que poderia dizer que me sentia feliz.
Mas quem estava ali deitado?
Um Dom Quixote que se cansara de lutar contra moinhos de vento?
Um Sancho Panca que gozara tudo o que havia para gozar?
Alguém com preguiça? Como alguém que bem conheço, às vezes, diz: "O que é que estas ai a fazer alapado?" Alguém que não sabe para onde ir? Que perdeu toda a motivação? Que foi cilindrado pela sociedade? Que prefere não ver o que se encontra ao seu redor?...
Que amara e se decepcionara? Ou se incompatibilizou com a sua contraparte, vulgo sexo oposto?...
Alguém que não quer sofrer?...
Alguém incapaz de novas conquistas?...
Não sei, não sei, não sei e não sei! Pouco importa; o que importa é que gostava de estar ali.
Durante muitos anos fui sobrevivendo com o pouco ar que vinha entre as finas areias, que pareciam envolver aquela estrutura, onde continuava deitado sem qualquer movimento... Só mesmo aquela imperceptível respiração...
Por vezes eram muitos os pensamentos que me passavam pela cabeça... que quase me faziam esquecer que estava ali deitado... Esta agitação do pensar certamente era provocada pelo pouco ar e por uma sensação de sufoco que era permanente... As próprias emoções tinham de ser controladas pois o pouco ar era insuficiente para expressa-las o que parecia comprimi-las ainda mais!...
Durante todos esses anos procurei adaptar-me a esta insuficiência de oxigénio ajustando a forma de viver mas por muito que ajustasse o ar era sempre insuficiente...
Talvez quando lá fora chovia o ar tornava-se mais fresco sendo possível encher os pulmões com ar refrescante que me trazia as vagas lembranças de outros tempos onde era possível respirar de pulmão completo e sentir que o ar que esta dentro é o mesmo que está fora, sentir o ar sem cheiro ou com leves aromas que emanam paz e contemplação... Ou o cheiro da água indolor que exala frescura húmida como a dizer: "Brinca comigo", "Bebe-me, banha-te, lava-te, adoça-te.", "Sê também tu água em mim, tu que também és feito de mim"
(...)
Porque será que me doem os pulmões?
Félix (R.P.)
terça-feira, março 17, 2009
"Lágrima Doce" - Sri Lanka
Lanka do épico Ramayana, Taprobana do período pré-colonial, Ceilão dos Portugueses, Seilan dos Árabes ou Sri Lanka dos Singaleses, esta ilha parece ser todo esse passado-presente que se vai abrindo no meio da luxuriante floresta, num misto de contrastes tão típico destes países do Sul da Ásia, que descrevo desta forma:
"Salgado o Mar azul
Doce a floresta pintada com todos os tons de verde
Salgados os corvos pretos
Doces os pássaros coloridos de arco-íris
Salgada a prisão de Sita por Ravana em Sita Eliya
Doce a sua libertação por Rama e Hanuman
Salgadas as vontades que procuram apagar os poucos sinais da presença Portuguesa
Doce a presença de Santo António e a devoção que perdura desses tempo
Salgado o controlo (necessário ?) das tropas nos locais de peregrinação
Doces as árvores milenares que preservam em si recordações dos primórdios do Budismo
Salgadas as águas destruidoras do "tsunami" (1)
Doce a cooperação vinda do exterior
Salgado o conflitos entre tropas e Tigres Tamil
Doce a convivência entre as várias comunidades religiosas
Salgadas as manipulações dos homens que detêm poder
Doces a paciência das gentes simples
Salgada a forma como se conduz
Doce a água refrescante dos cocos
Doce as plantações de chá nas montanhas de Nuwara Eliya e o ar penetrante que ai se respira
Doce a oportunidade de poder contactar a "Lágrima Doce"
Nota: De acordo com fontes no local cerca de 53000 expiraram.
Relacionado com o maremoto (tsunami)... Uns dias antes de chegar a Baticaloa lia que aí ainda existia quem falasse uma espécie de dialecto com base lexical Portuguesa o que despertou um pouco a minha atenção... Seria interessante encontrar alguém que o falasse... Ao perguntar acerca de tal eventualidade a um local, ouço a seguinte resposta: "Conhecia dois ou tres e foram levados pelo 'tsunami'!!! Perante tal afirmacao secaram-se-me as palavras!
Os diamantes de Niraj
De Rishikesh viera Guruji e de vários pontos de Andhra Pradesh os vários membros (como usualmente costumam chamar-se); Inderjeet Babaji, "antigo discípulo de Guruji, é o anfitrião da "Yajnya celebration".
O endereço que transporto era Sai Krupa Ashram, em Hyderabad, onde me dirijo e é lá que tomo conhecimento da existência deste Yacharam Ashram e da dita celebração.
Pouco tempo depois um jeep aparece e alguns conselhos são me transmitidos, num estilo bem Indiano. Mais tarde estamos a percorrer uma estrada de terra; a paisagem é semi-desértica, os campos estão coloridos de amarelo-torrado e salpicados por verde pálido das poucas árvores e arbustos que aumentam de número junto das formações rochosas; uma delas é de base granítica que mais tarde chamaria de "O Vulcão" e à esquerda uma curiosa linha de pedras negras, que se estende por vários quilómetros...
Uma tenda improvisada para o acontecimento serve como suporte logístico e é lá que se encontra Inderjeet Babaji, que vejo pela primeira vez. Prosto-me em sinal de respeito e é a ele que entrego uma caixa de doces, respeitando assim uma tradição Indiana e verbalizo algumas palavras às quais ouço como resposta: "Não importa se dás muito ou pouco mas a intenção da dádiva, é que deve ser verdadeira". Talvez não só pelo que acabava de ouvir mas a forma como ouvi aquelas palavras que simplesmente me fazem sentir como se tivesse acabado de chegar a casa!
Muitas coisas aconteceram durante estes três meses que estive ligado a este espaço, sem que tivesse previsto o quer que seja; tudo foi acontecendo como se já estivesse previsto e eu só tivesse que saborear aquilo que vinha ao meu encontro. Se momentos há em que as incertezas pareciam dominar (e por vezes, parece), a experiencia que ali se desenrola mostra que esses receios são infundados, não mais do que criações da mente.
O dia seguinte era o inicio do silêncio de Niraj. Conhecido por "Mauna" o praticante compromete-se a manter total silêncio durante determinado período de tempo. No presente caso o compromisso era de 90 dias. Guruji e Babaji abençoaram-no e ele pede a bênção dos presentes num gesto simbólico de inclinar perante cada um dos presentes tocando-lhes os pés.
Depois destes dois primeiros dias regresso ao Ashram de Hyderabad onde sigo alguns conselhos de Inderjeet Babaji que são muito direccionados para o relaxamento profundo, onde o objectivo é trabalhar as tensões profundas desta mente-corpo. Percebi então que aquilo que chamamos de Paz não passa de um estado de Ser, que se manifesta quando relaxamos das nossas tensões e agitações da mente. É nesse Silencio interno, que ao ser sustentado nos trará a Paz que abrirá as portas para as realizações internas e auto conhecimento. Posto assim pode parecer fácil mas a mente é algo bem "poderoso" cheio de "entroncados". Uma vez dizia a Babaji: "É tão difícil alcançar e manter esse estado de relaxar completamente". Ele responde: "Sim é difícil mas não impossível!" A mente agarra-se aos padrões habituais e resistirá... trazendo à superfície as mais diversas dificuldades, qual material que domina escondido nos véus do subconsciente!
Para quem quer conhecer o que existe lá no fundo, bem escondido nestas caves, conciliar técnicas de relaxamento, silencio, alguns exercícios de Yoga, um banho de agua fria ao nascer do Sol, fazer alguns exercícios de Pranayama, deixar-se envolver num ambiente de espiritualidade sobre a orientação de alguém que percorreu estes caminhos, pode transportar a percepção crescente do que é viver em Bem-Aventurança.
Infelizmente, três meses só dá para ter um pequeno contacto, mas é o que é; contudo essa pequena percepção é o contacto com a Vivência, que apesar de precisar de muito trabalho é o suficiente para dizer:
"A minha busca terminou".
Verbalizar tal frase para alguém que tem percorrido milhares de quilómetros tem um sabor muito especial. Quando reflectia a primeira vez acerca desta questão todas as células do meu corpo pareciam vibrar de jubilo, alegria e comoção!...
É com Ira, um ser muito bonito, que retorno ao Yacharam Ashram, onde Niraj continua o seu silêncio, deixando crescer a barba e usa trajes Indianos muito simples...
Envolvo-me, como que contagiado, na prática do silêncio que estendo durando 40 dias, onde contacto com novas realidades que antes pareciam não existir, o que por si só aumenta a dificuldade de as explicar.
Tópicos como novas percepções na relação com a natureza parecem trazer significados cada vez mais profundo, p.e., os nossos movimentos e os dos pavões selvagens pareciam tornar-se cada vez mais próximos, para podermos variadíssimas vezes contemplar estas criaturas sensíveis, consideradas sagradas, em voos coloridos ao por do sol ou ouvi-los em seus cantos a anunciar um novo dia...
Quanta beleza transportam os papagaios que no seu chilrear agitado parecem voar de acordo com determinados movimentos energéticos que vão mudando ao longo de um dia...
Ou as diferentes "vibrações", facilmente percebidas em meditação, provenientes daqueles solos onde não serão alheios os vários fenómenos geológicos que ali ocorreram; Não terá sido por acaso que Niraj sonhara com papagaios comento diamantes e pérolas naqueles solos...
Ou viver sem espelhos...
Ou o mundo dos sonhos que parece entrelaçar-se cada vez mais com a realidade...
(...)
Parece um novo mundo a abrir-se lentamente à medida que nos solidificamos nessa tranquilidade e vamos relaxando de todas as tensões, que nada mais são que identificações às quais nos agarrámos mantendo ligações energéticas, normalmente desconhecidas conscientemente, que alimentam um eu ilusório; "atafulhando" permanentemente as nossa mentes "internas"; e parece ser no meio desse "entulho" que criámos a ideia de liberdade que certamente nunca encontraremos...
(...)
Ira há muito que viajara para Rishikesh, Niraj também regressara com Guruji que viajara ao nosso encontro após aqueles três meses trazendo um sabor muito, muito especial; eu prolongo o meu silêncio preparando-me também para viajar ate ao Sri Lanka.
Estou na minha cabana de canas de bambu e cobertura de palha de arroz, deitado no colchão irregular que tem a espessura suficiente para não deixar passar o frio do piso de cimento e qual não é o meu espanto ao ver uma cobra serpentear em minha direcção, vinda debaixo do pequeno altar que tinha mesmo ali em frente dos meus olhos. Vinha com a tranquilidade de quem faz uma visita amigável; eu admiro-a, nas suas cores de branco e preto, entre o incrédulo e a compreensão do simbolismo de tal acontecimento precisamente no ultimo dia de silêncio e permanência no Ashram. Como Babaji diz: "Não é coincidência, mas sim o sistema!" (precisamente no mesmo sentido em que Prem Baba diz: "A linguagem do Universo é a sincronicidade").
(Abaixo está uma correspondência que enviei logo após esta experiencia que parece falar por si).
"Saudações de Luz...
Nem sei bem por onde começar...
Terminei no dia 14 (de Fevereiro) a prática do silêncio que acabou por durar 40 dias completos. Que experiência! Nunca tinha andado por tais caminhos... E na realidade a percepção que ficou é que o Verdadeiro ainda não tinha começado! Viver totalmente no SILÊNCIO o quão maravilhoso não será?! A experiência por que passei parece ter sido um aproximar a uma janela onde tudo "vibra" noutra frequência! Tal prática permite começar a solidificar estruturas que só vagamente eram tocadas dando o devido tempo para que cresçam para lá dos receios, alterações mentais... que surgem na mente."
"Que o Puro Amor seja vivenciado"
Rui
Próxima edição: "Lágrima doce" - Sri Lanka
sábado, março 07, 2009
Em direcção ao Sul
Em Rishikesh;
O reencontro com Rishikesh fora atribulado fazendo-me alterar os planos abruptamente; contudo, também estas alterações parecem fazer parte do "plano" que cada vez mais me afastam do meu querer pessoal. Uma atitude aceitante destas alterações tem revelado significados e experiências que de outra forma, certamente, não aconteceriam...
Rishikesh tem-se tornado numa segunda casa neste deambular por terras da Mãe Índia. O próprio nome transporta um significado profundo (Rishi+Kesh), que significa "cabelo do Rishi". Posto assim parece não ter nada de especial, mas na cultura Hindu, "Rishi" é aquele Ser que compreendeu, não só as leis físicas, mas também as leis dos planos invisíveis, tendo poder para actuar em todos estes planos; "Rishi" é uma espécie de cientista conhecedor de todos os planos da manifestação. A linguagem dos símbolos, refere "cabelo" como "vibração"; querendo isto dizer que naquele solo estas qualidades estiveram e estão presentes, afectando, normalmente inconsciente, todos aqueles que por ali passam.
Não será por "simples acaso" que um ano antes (ultima série de fotos deste blogue) recebera a iniciação no Mantra Guru (Diksha) com todo o simbolismo do corte do cabelo (corte das vibrações antigas) com a oferta ao Ganges (Mãe Ganges) de tudo o que é velho para deixar crescer as novas vibrações que serão uma emanação do ritual em si e da energia do local. (...) Todo este ritual acontece sem que tivesse qualquer ideia destes significados.
Em Delhi;
Dois ou três dias depois, encontro-me em Delhi, onde consulto dois médicos acerca de algumas mazelas algo recorrentes, recebendo a informação que não haveria nada de especial, o que me deixou mais tranquilo... O sadhana regular com práticas tipo meditação, Yoga, técnicas de relaxamento... parecem ajudar a trazer à superfície estas mazelas que uma vida mais virada para o exterior deixa passar despercebido. O outro aspecto é que as práticas em si actuam na própria mente tornando-a mais sensível (...), e quando não sabemos o que está em causa, o melhor mesmo é ir ao médico! :)
Entre o médico e as viagens no moderno metro de Delhi ainda pude ver o Red Fort (Forte Vermelho), construção sultana do Império Mugal, misturado com as construções no interior das muralhas de edificações do Colonialismo Britânico, ou o frenético mercado das especiarias e frutos secos, mesmo ali em frente.
Caminho por Dedhi entre estes mistos de cultura e algumas conversas que tenho pontualmente com os locais e outros viajantes; lembro-me de uma questão de um Japonês que se admirava acerca do Portugal do presente parecer desaparecido quando comparado com o Portugal de outros tempos, ou do Esloveno que aparecendo no meio da conversa, conta a história, ainda indignado, do aparecimento de um jogo popular na Índia, que envolve episódios macabros de uma "donzela" Portuguesa...
Delhi mostrou-se agradável mas a minha atracão por cidades parece reduzir-se a muito pouco...
Em Agra;
A minha descida leva-me ao famoso Taj Mahal que sem dúvida é digno de ser apreciado. Foi dedicado a Mumtaz Mahal, segunda mulher do Imperador, que morrera ao dar à luz o 14º filho. Em sua memória o Imperador, Shah Jahan, edifica este mausoléu, onde também ele viria a ser sepultado; Tagore, poeta de Bengala, virá a descrevê-lo tão simplesmente como: "Uma lágrima na face da eternidade".
Não muito longe fica também o mausoléu de uma das maiores referencias da India, Akbar, que segundo varias fontes fora um dos mais sábios governantes da Índia. Se bem me recordo, Akbar, promovera vários encontros inter-religiosos num espírito de tolerância e partilha, onde também os Portugueses, provenientes de Goa, participaram.
Em Ajanta e Ellora;
Um pouco mais abaixo, mas já no Estado do Maharashtra, visito Ajanta e Ellora num entalhado de Templos escavados na rocha que parecem concorrer entre si ao premio de arquitectura, onde as três religiões ancestrais da Índia se encontram representadas: Hinduísmo, Jainismo e Budismo.
O Lonelly Planet refere que Ajanta após o seu período áureo, 200 a.C. a 650 d.C., só viria a ser redescoberto em 1819, por um caçador Inglês. Pergunto-me qual não deveria ter sido o espanto deste Inglês ao deparar-se com tais constrições que apresentam um assinalável estado de conservação; não só as edificações mas muitas das estátuas e inclusive pinturas sobreviveram nos domínios do subconsciente da Humanidade para reemergirem novamente à luz de um novo dia.
Em Yacharam Ashram;
A minha descida levava-me para o Andhra Pradesh, não longe de Hyderabad, procurando eu o "meu" Guru que me parece fugir por entre os dedos.
Curioso o detalhe de um dia ter desejado visitar as nascentes do Ganges, no Himalaia, e parece que a viajem me leva cada vez mais para Sul. Neste momento encontro-me no Sri Lanka, não longe do ponto mais meridional!
Talvez o descer faca parte da subida. :)
(A próxima edição será acerca desta experiencia, no Yacharam Ashram, que dei o nome de "Os diamantes de Neeraj", passado durante a segunda quinzena de Nov., Dez. 08, Jan. e primeira quinzena de Fevereiro de 09.)
Saudações de LUZ
segunda-feira, março 02, 2009
Definição de Poesia
Perguntava-me recentemente porquê. Percebi que na realidade não sei o que é poesia e talvez nunca venha a saber... por muito que o meu coração se entristeça...
Será um estado de Ser?
Será um delírio da Alma?
Será um perder-se ou um encontrar-se?
Será um render-se ou um deixar-se levar?... E para onde?... Onde?
Talvez seja...
deixar-se levar de autocarro por ruas estreitas onde este não possa passar;
caminhando por passeios e pátios, ver o mundo das gentes
e apanhá-lo mais à frente, para deixar-se levar sem destino,
perguntando aos poucos passageiros: "Para onde vais?"
E ouvir as suas respostas indo com esse alguém buscar o que o outro busca
e talvez encontrar Pessoa a ser recitado nalgum bar simples de Lisboa.
Ou talvez não...
Félix (R.P.)
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
Fotos do Diksha Day II
Rishikesh Fotos do "Diksha Day" - Fev. 2008
Durante um ano hesitei partilhar estas fotos, mas parece que algo mudou... :)